Na prática psicanalítica nos deparamos com as repetições de nossos pacientes. Repetições que respingam nos diversos relacionamentos: namoro, casamento, amizades, ou nos familiares. Padrões de conduta, crenças inabaláveis, traumas que são vividos e revividos. Sustentar as repetições exige fôlego, a isso chamo de dispêndio de energia. Claro que quando analisandos chegam com suas demandas querem ficar livres de seus sofrimentos. Mas, por incrível que pareça, sustentar o sofrimento envolve uma dedicação para tal. Isso não significa que as pessoas gostem de sofrer, no entanto mesmo sem prazer, o gozo da satisfação é sustentado pelos esforços dispendiados. Ficar livre do sofrimento envolve ficar livre do gozo, parece contraditório. Mas são estas aparentes contradições com que lidam os psicanalistas. Lidam com o simbólico que nas elaborações dos analisandos provocam sentidos para aflorar os tesouros dos significantes. Quando os analisandos começam a "calcular" o dispêndio de energia para a manutenção do sofrimento, a conta não bate. Sem fôlego, tentam sustentar sintomas, carregam culpas, mergulham nas mágoas, ou arrastam correntes! Haja ar, haja força, haja esforço. Assim a cabeça dói, a pressão sobre, o músculo tenciona, o sono desaparece e as lágrimas caem. Não sofrem porque querem, mas sustentam o sofrimento carregando o mundo. Quanta força! Mas assim segue o tratamento. Felizmente, do reconhecimento das repetições até a percepção de que não vale à pena o desgaste de tanto tempo e energia, há a cura. Trajeto longo de tropeços nas pedras do inconsciente. Bancar a análise e o desejo exige tempo, esforço e persistência. Já que tanta energia foi gasta num gozo por sustentar o sofrimento, porque não direcionar toda esta energia investindo no contrário? Pensemos e sigamos focados não nos tropeços, mas em nossa capacidade inventiva centradas nas diversas formas de nos reerguermos.
Paulo Bandeira
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